9:50 Qualquer Sofá

Um experimento de narrativa, uma espécie de poema teatral coreográfico, com um olhar divertido sobre os fait divers que rompem nosso cotidiano. Utilizando um sofá branco e folhas de papel, 4 mulheres narram e criam imagens sobre diversos fatos reais que nos causam perplexidade: uma mulher que é atingida por um raio ao escovar os dentes, uma babá que coloca um bebê na máquina de secar, um cego que dirige um carro na contramão.

Desta forma, OPOVOEMPÉ traz para um espaço fechado, a linguagem desenvolvida com as intervenções urbanas, baseada em ações coreográficas, estruturas de improvisação e na comunicação direta com o espectador, convidado a elaborar ativamente os sentidos propostos pela encenação. A montagem de 9:50 Qualquer Sofá busca imagens não-realistas, transpostas, onde os sentidos se fazem através dos gestos, das relações espaciais, das repetições.

O performer é anterior ao personagem, e circula num universo que o aproxima do teatro-dança e do teatro físico. O sofá-espaço-de-narrativa, é utilizado de forma inusitada, também tornando-se outro: um espaço neutro, um espaço de sentidos duplos. Torna-se analogia de fait diver, sendo o que é e, ao mesmo tempo, rompendo sentidos conhecidos, refletindo momentos onde as certezas e causalidades se dissolvem.

Sobre a Dramaturgia

Assinada pela diretora Cristiane Zuan Esteves, foi criada juntamente com a encenação, a partir da pesquisa do grupo e da intervenção “Este Sofá é pra Contar”. As atrizes criadorasAna Luiza Leão, Graziela Mantoanelli, Manuela Afonso e Paula Possani convidavam pessoas do público para sentarem-se com elas em um sofá e contar histórias engraçadas, absurdas, azaradas ou coincidências. A partir das histórias do público, elaboravam títulos de fait-divers que eram “instalados” em ação coreográfica. Reunindo histórias, trechos de aulas de Deleuze, aforismos de Novalis, orientações para jogadores de RPG, a dramaturgia é construída de forma não linear. As históriassão desdobradas, reinterpretadas, de modo a se relacionarentre si direta ou indiretamente. Trata-se de uma rede de entrelaçamento de fatos díspares – como se vivêssemos todos num imenso encadeamento de estranhamentos, onde tudo parece escapar à lógica e explicação, e onde todos osfatos absurdos de alguma maneira influenciam uns aos outros. Por que SOFÁ?

A escolha do sofá, objeto corriqueiro, como centro das ações dramáticas, está diretamente ligada ao interesse do grupo em falar de um homem que pode estar em qualquer lugar, pertencer a qualquer classe social. O sofá, símbolo da banalidade da vida cotidiana, espaço de intimidade, onde sentamos todos os dias para falar, assistir, descansar, se transformou também no espaço das narrativas excepcionais e banais nos programas de entrevista de televisão. Tornou-se espaço de transformação do homem comum num ser que merece ser escutado publicamente. Mas, diante da enxurrada de informações fragmentadas, todos os fatos acabam por adquirir a mesma importância. Torna-se difícil verificar o que é assunto privado ou interesse de uma coletividade. Restam apenas causalidades e coincidências, suspensas entre o racional e o desconhecido. Por isso, trabalhar com os fait-divers. Segundo Barthes, o fait diver, esta “informação monstruosa, análoga a todos os fatos excepcionais ou insignificantes” e que não se relaciona, formalmente, com outra coisa que não seja ela própria contêm em si todo seu saber. Diz-nos que “o homem está sempre ligado à outra coisa, que a natureza está repleta de ecos, de relações e de movimentos”.

Concepção e DireçãoCristiane Zuan Esteves
Atrizes criadoresAna Luiza Leão, Graziela Mantoanelli, Manuela Afonso, Paula Possani
DramaturgiaCristiane Zuan Esteves
IluminaçãoFlávio Rabello /Vinicius Andrade
FigurinoAnne Cerutti
Trilha SonoraMano Bap
MúsicasMano Bap, Denis Duarte e Maurício Takara
Programação VisualBruno D´Angelo
FotosAlexandre Schneider, Christian Castanho, Felipe Carneiro, Rodrigo Rosenthal
Direção de ProduçãoHenrique Mariano

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